OS PASSADIÇOS DO PAIVA

por jcerca em 21 de Agosto de 2015

A grande atração deste verão em Arouca

Desde que foram inaugurados em 20 Junho passado o tema dos passadiços tem sido assunto  recorrente em  toda a comunicação social, desde televisões, jornais, revistas, blogs e sobretudo em redes sociais. Pode mesmo dizer-se que os média se renderam à magia dos passadiços, o que também tem contribuído muito para a sua divulgação a nível nacional e internacional.

Nunca um empreendimento em Arouca teve, de imediato, tanto sucesso como este, a avaliar pelos centenas de pessoas que diariamente tem demandado a Arouca, desde a sua abertura para percorrerem os Passadiços do Paiva, sobretudo durante este mês de agosto.

Esta avalanche de turistas apanhou, quase que desprevenidos, os responsáveis da autarquia que não têm descansado para tentar resolver os problemas que este inesperado afluxo de visitantes tem criado, um pouco por toda a parte, nomeadamente nos locais  de entrada/saída dos passadiços.

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A sinalização e o estacionamento

Dois dos problemas que logo saltaram à vista, sobretudo para os visitantes, têm a ver com a deficiente sinalização e a falta de espaços para estacionamento.

E se o primeiro problema começou já a ser resolvido com a colocação de placas indicadoras que facilitem a chegada dos visitantes às zonas dos passadiços, a verdade é que não é fácil arranjar, de imediato, espaços de estacionamento para tão elevado número de viaturas e até de autocarros. O estacionamento ao longo da estrada e nas suas duas bermas tem trazido problemas no fluxo do trânsito e bom seria que, pelo menos aos fins-de-semana, as forças de segurança estivessem presentes para ajudar a resolver este problema.

O lixo

Sobretudo nos locais terminais do passadiço (Espiunca e Areinho) o lixo tem sido outro problema pela sua acumulação excessiva, ao longo deste mês de agosto, o que exigiria uma recolha mais frequente ou o aumento, mesmo que temporário, de contentores.

A divulgação em redes sociais de cenas ecologicamente desagradáveis, chocantes mesmo, relativamente ao lixo que se vai acumulando, não só na zona dos passadiços, mas também na Serra da Freita e um pouco por todo o lado, não é, de modo algum, um recomendável cartão para quem nos visita.

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A manutenção dos passadiços

Um empreendimento desta envergadura, como são os passadiços e dada a sua enorme utilização, exigirá uma manutenção quase permanente. E para isso será razoável que os próprios utentes contribuam para essa mesma manutenção.

A cobrança de uma pequena entrada aos respectivos  utentes será uma mediada que, mais dia menos dia, virá inevitavelmente a ser adotada o que permitirá, não só a angariação de receitas, como contribuirá também para um rigoroso controlo estatístico. E se hoje é fácil contabilizar rigorosamente os visitantes na Casa das Pedras Parideiras no lugar da Castanheira desde que foi aberta, devido à existência de um pequeno bilhete, pena foi que não se tivesse adotado já, mesmo que provisório, um qualquer sistema que nos permitisse saber, com exactidão, o número de pessoas que percorreram os passadiços desde a sua abertura.  A futura criação do pagamento de uma pequena entrada permitirá também o rigor  desta contabilidade estatística.

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Ainda recentemente tivemos ocasião de percorrer um passadiço no Vale de Ihlara na Turquia e em todas as entradas/saídas havia torniquetes para controlo das entradas pagas. E até o estacionamento de veículos em parques fora dessas zonas de reserva natural é pago. Na Turquia o próprio acesso a praias localizadas em áreas de reserva natural era pago e, na verdade, a qualidade e limpeza de tais espaços eram bem visíveis.

Por isso parece-nos que será bastante compreensível que futuramente se venha a adotar, nos passadiços do Paiva, um sistema de entradas pagas, pois na verdade, trata-se do acesso a zonas de reserva natural que foram abertas ao público através da instalação dos passadiços, permitindo assim, desfrutar de locais e paisagens que até agora estavam completamente inacessíveis à grande maioria das pessoas.

Contemplar e desfrutar o rio

Com 8,7 km de comprimento, ao longo da margem esquerda do rio Paiva,  estes passadiços permitem, não só o acesso a 5 dos 41 geossítios do Arouca Geopark, como também permitem usufruir das águas límpidas e frescas do rio que já teve fama de ser o menos poluído da Europa.

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Embora ao longo do percurso o rio apresente diversos locais para bons mergulhos, a verdade é que os passadiços  permitem o contato físico com o rio, apenas – e ainda bem – na praia fluvial do Vau, a 3 km de Espiunca e na praia do Areinho que já oferecia estruturas de apoio aos utentes, mas que agora viu extraordinariamente aumentada a sua frequência.
Infelizmente, este fenómeno de massas que se tem vindo a verificar nos passadiços não é muito compatível com o desfrutar calmo e sereno da natureza, acontecendo mesmo que muitos dos utentes caminham, caminham mas não observam nem contemplam as belezas naturais por onde passam.

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Esperemos que após esta febre de verão a calma e a normalidade regressem de modo a que os passadiços sejam, na verdade, um privilegiado miradouro para os amantes da natureza desfrutarem as belezas do rio Paiva e da paisagem que o emoldura. E este miradouro oferecerá  sempre uma diversidade grande de belezas ao longo do ano, sendo de esperar que a paisagem de inverno não seja nada inferior às que o Verão oferece.

Posto de informação turística

Dadas as potencialidades que esta estrutura turística ao serviço da fruição do nosso património natural representa, e cujo elevado número de visitas que se tem vindo a verificar parece prognosticar um sucesso garantido, torna-se necessária a criação de um posto de informação turística local, de preferência em Espiunca, de modo a que os visitantes possam usufruir de informação mais ampla sobre a diversidade do património que Arouca tem para oferecer a quem a visita. Por outro lado, isso poderia impedir que muitos dos visitantes abandonassem o território arouquense via Castelo de Paiva, sem passarem por Arouca, o que tem acontecido quase diariamente, em parte, devido a informação que os GPS fornecem e que nem sempre é a mais adequada para o utente, nem a mais rentável e adequada para a região.

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Mesmo que fosse provisória não entendemos como não foi possível montar no local neste verão uma pequena estrutura informativa, mesmo que se tivesse de deslocar para lá um ou dois funcionários da AGA. Teria sido, certamente uma boa medida promocional não apenas dos passadiços mas das restantes potencialidades do Arouca Geopark.

Estruturas de apoio gastronómico

Em contrapartida a esta atitude  passiva de marketing informativo verificou-se, por outro lado, um certo espírito criativo e empresarial de algumas pessoas para colmatar a ausência de estruturas locais que satisfizessem as necessidades gastronómicas dos visitantes, nomeadamente as de bebidas.

E foi num curto espaço de tempo que foi montada uma estrutura de apoio em Espiunca, logo à entrada do passadiço, e outra na praia do Vau. Independentemente das burocracias que tais iniciativas acarretariam e ignorando até a sua rentabilidade económica, a verdade é que tais estruturas disponibilizaram aos visitantes, a comida e a bebida que eles procuravam. E até em determinados locais do percurso houve mesmo quem montasse pequenos postos de venda de bebidas, gelados e de fruta. Independentemente da rentabilidade destas medidas avulsas, a verdade é que as considero como uma louvável prestação de serviço aos turistas.

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Os transfers e outras atividades

Sendo de dificuldade elevada nem todas as pessoas conseguem fazer os 8,7 km de regresso ao ponto inicial dos passadiços. Esta circunstância despoletou, de imediato, uma excelente actividade para os taxistas que não têm tido mãos a medir para responder às constantes solicitações em ambas as extremidades dos passadiços que distam 11 km por estrada.
Além deste tipo de actividades, muitas outras têm beneficiado do excepcional afluxo de turistas neste verão, desde cafés, restaurantes e alojamento. Bom será que este crescimento turístico espevite as pessoas locais a adaptarem-se a esta nova realidade criada pelos passadiços e não deixem que outros de fora de Arouca o façam, como aconteceu, por exemplo, na aldeia da Paradinha.

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Preservação e vigilância

O turismo de massas acarreta, quase sempre consigo inconvenientes pouco compatíveis com o património que se pretende desfrutar, neste caso concreto, o património natural.
Demasiado ruído, quer motivado pela fala das pessoas, quer oriundo de aparelhos de música portáteis impedem, certamente, que se aprecie a paisagem e que se saboreie os sons da natureza.

E se, infelizmente, ainda há quem não tenha o mínimo escrúpulo em lançar latas ou garrafas de plástico ao longo do passadiço, também há, por outro, lado quem não tenha pejo em exprimir a sua parolice e o seu mau gosto ao deixar gravadas na madeira mensagens bacocas ou grafitis sem qualquer objectivo que não seja o de estragar.A

No meio de pessoas bem intencionadas e que são a maioria dos visitantes, há sempre quem se pretenda destacar pelo aspeto negativo deixando marcas da sua falta de civismo como as referidas.

Se será humanamente impossível colocar um vigia em cada esquina, caberá aos próprios utentes serem agentes de vigilância ao serviço da preservação deste bem comum que são os passadiços, montados ao serviço de um bem maior que é a natureza  de modo a poder ser  desfrutada por todos.

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José Cerca

Publicado no semanário “Discurso Directo” nº368  de 28 de agosto 2015

{ 1 trackback }

Passadiços do Paiva, em Portugal
2 de Julho de 2016 às 15:33

{ 4 comentários… lê abaixo ouadiciona }

1 ALBERTO FERREIRA 22 de Agosto de 2015 às 17:58

NÃO É HUMANAMENTE IMPOSSÍVEL, É SIM PRECISO QUE SE CRIEM INFRAESTRUTURAS ADEQUADAS À SITUAÇÃO. QUANDO SE QUER, NADA É IMPOSSÍVEL, É SÓ UMA QUESTÃO DE QUERER E ESTUDAR A SITUAÇÃO, HAJA VONTADE PAR ISSO. PENSAVA-SE QUE ERA IMPOSSÍVEL IR À LUA, MAS JÁ LÁ FORAM. O CRER É PODER E QUANDO SE QUER, TUDO SE CONSEGUE E FAZ . NÃO ME VENHAM COM O HUMANAMENTE IMPOSSÍVEL, POIS ISSO NÃO ENTRA NEM NUNCA ENTROU NA MINHA ESTRUTURA MENTAL . UMA VEZ MAIS AFIRMO. O CRER É PODER .

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2 Luís 27 de Agosto de 2015 às 8:56

Ai Alberto! Em cada esquina é impossível é! Ou o Alberto está disponível para pagar o acesso ao passadiço? Pois, em Espanha em sítios assim fazem-no, sabia, ai se fosse cá… Caía o Carmo e a Trindade e ainda mais alguma coisa…

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3 Joaquim Oliveira 30 de Agosto de 2015 às 11:14

Espero que o passadiço ou os passadiços de Arouca, à semelhança do futebol e da carne arouquesa contribuam para que Arouca se evidencie cada vez mais no mapa da Área Metropolitana do Porto, gerando um surto empreendedor que contribua para a fixação das populações e atração dos que um dia tiveram de procurar ganhar a vida fora do concelho e que favoreça a concentração das atenções por parte do poder local e dos governantes, no sentido de melhorar as infraestruturas de acesso e passagem por Arouca, melhorando as atuais rodovias de ligação a Oliveira de Azeméis/Vale de Cambra e Canedo e criando outros horizontes para norte e este, nomeadamente as saídas para Castelo de Paiva, Cinfães, Castro Daire e São Pedro do Sul.

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4 Joaquim Oliveira 30 de Agosto de 2015 às 11:17

Um obrigado e um abraço ao José Cerca, por este apreciável trabalho.

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