Banhada pelos rios Paiva e Paivó, considerados ainda dois dos rios menos poluídos da Europa, o lugar da Paradinha constitui uma das aldeias de xisto mais típicas do concelho de Arouca, na freguesia de Alvarenga e cuja paisagem natural foi sofrendo, ao longo dos anos, progressivas transformações.
Sendo as vias de comunicação elementos importantes em qualquer paisagem construída, refira-se que, durante muitos anos, o acesso a esta aldeia foi feito apenas por um estreito caminho em terra batida. Desde há alguns anos, esse acesso foi significativamente melhorado, não só no seu ligeiro alargamento, como no seu asfaltamento, que terminou em 2008.
Da desertificação à recuperação
Aldeia essencialmente agrícola, a Paradinha, como muitas aldeias do interior do País, começou a sofrer, sobretudo a partir dos anos 80, uma progressiva desertificação, a ponto de ficar totalmente abandonada há cerca de 30 anos. Este abandono dos moradores teve como consequência o início de uma progressiva e rápida degradação das habitações todas elas construídas em xisto, com cobertura em ardósia, materiais esses que abundam na região.
Foi o equilíbrio da mancha visual desta aldeia e a perfeita integração das suas habitações na paisagem natural, bem como a sua proximidade a dois dos mais importantes cursos de água que atravessam o concelho de Arouca, que fizeram da Paradinha uma das aldeias mais típicas de Arouca. Por esse motivo era urgente inverter a sua desertificação e travar também, não só a sua degradação, como a eventual adulteração da sua paisagem original.
Há cerca de 25 anos e já quando muitas das habitações se encontravam em processo de degradação acentuada, começaram a surgir vários pessoas, a maior parte delas fora do concelho de Arouca, interessadas em comprar as casas e recuperá-las para habitação de fim-de-semana ou de férias.
Foi então que, tal como a Fénix renascida das cinzas, também esta aldeia começou lentamente a erguer-se das suas ruínas, transformando-as em habitações de férias ou de fim-de-semana.
Apesar de haver um ou outro caso menos feliz, a verdade é que, no geral, os novos proprietários da aldeia procuraram respeitar, tanto quanto possível, a sua traça original, quer nos materiais utilizados exteriormente, quer na envolvência que deram às suas habitações.
Equipamentos turísticos
Banhada pelo rio Paiva a aldeia da Paradinha tem ótimas condições para o lazer, nomeadamente na época de verão. Nesse sentido a Câmara Municipal de Arouca elevou-a, desde há vários anos, à categoria de praia fluvial tendo aí instalado equipamentos de apoio aos banhistas.
Por sua vez a Associação dos Amigos da Paradinha (ASAP) constituída em 2000 pelos novos moradores da aldeia equipou uma extensa área com um parque de merendas junto ao rio, devidamente arborizado, com mesas em xisto e ardósia e alguns grelhadores.
Todos estes melhoramentos que têm vindo a beneficiar turisticamente esta aldeia criaram condições para que, desde há 12 anos a esta parte, no mês de Agosto, aconteça um interessante evento musical denominado “Sons da água” e que consiste na realização de um concerto sinfónico, num palco montado sobre o rio Paiva, o que tem atraído a esse local numerosos amantes da música e da natureza.
Museu da cera
Além dos melhoramentos turísticos já referidos, há um outro que bem se justificaria ser criado dado que está profundamente ligado ao passado desta aldeia: um museu da cera.
Efetivamente, foi na Paradinha que Manuel da Costa e Silva, avô da pintora Norvinda Assunção, exerceu, durante mais de 50 anos, a profissão de cerieiro, tornando-se, então, no principal fornecedor de velas para quase toda a diocese de Lamego, bem como para todas as paróquias do concelho de Arouca e de algumas freguesias de Castelo de Paiva, de onde era natural e onde exerceu várias profissões, nomeadamente a de acendedor da luz pública, que, nesse tempo, ainda era a petróleo.
Tendo vindo a casar no lugar da Paradinha tornou-se então mais conhecido por “cerieiro da Paradinha”. Era, no dizer de suas filhas Maria dos Anjos e Norvinda Assunção,um homem simples e alegre que depressa granjeava amizade e simpatia junto de todos aqueles que com ele conviviam
É certamente a este homem que Norvinda Assunção deve também a sua maneira de ver o mundo e encarar a vida, através das telas que pinta. E é em homenagem à sua memória que ela ainda hoje conserva, na sua casa, a maior parte das alfaias utilizadas para o fabrico da cera. Daí a necessidade e oportunidade da criação de um museu com essas peças, perpetuando assim um património já há muito em vias de extinção e que se tornaria, certamente, em mais um motivo de interesse para esta emblemática aldeia.
Turismo de Natureza
Consciente das crescentes potencialidades que esta aldeia tem vindo a adquirir, sobretudo desde que começou a ser restaurada e, nomeadamente, após o enorme sucesso dos Passadiços do Paiva, o grupo FARCIMAR começou, recentemente, a construir um empreendimento turístico, para alojamento em condomínio fechado, constituído por 11 unidades construídas com o sistema Gomos. A maior parte dessas unidades serão da tipologia T2, mas haverá algumas unidades em T1 e T0. Construído numa zona arborizada, bem perto do rio Paiva, este empreendimento disporá ainda de uma piscina para uso privado dos seus utentes.
Refira-se que o autor da arquitectura do Sistema Gomos é o arquitecto arouquense Samuel Gonçalves e que em 2015 foi montada em Arouca, na quinta do Serrado, uma habitação modelo construída nesse sistema.
Embora a construção destas habitações esteja ainda na sua fase inicial, a facilidade do transporte dos módulos das habitações e a rapidez da sua montagem farão com que este empreendimento turístico possa, possivelmente, vir a ser inaugurado por ocasião da inauguração de um outro relevante empreendimento turístico para Arouca: a inauguração da ponte suspensa nos Passadiços, junto à cascata das Aguieiras e que está já considerada a maior ponte suspensa da Europa.
Com este empreendimento de alojamento turístico, aliado aos equipamentos atrás referidos; com o projectado prolongamento dos Passadiços até esta aldeia; com a atração que a nova ponte em construção trará a Arouca e com todo o envolvimento natural que rodeia esta aldeia de xisto, a Paradinha reúne condições excepcionais para fazer dela uma excelente estância de turismo de Natureza.
José Cerca
Publicado no jornal “Discurso Directo” nº474 de 07 de setembro de 2018