COMEÇANDO A VIDA DO ZERO!…

por jcerca em 10 de Janeiro de 2022

Com o telemóvel completamente escaqueirado, com o seu tablet partido e totalmente inutilizado, salvou-se milagrosamente o seu computador, o que lhe permitiu manter-se ligada às redes sociais que a viriam a salvar da situação de desespero em que se encontrava.

A Sofia (nome fictício) tinha planeada a sua fuga do sufoco em que se encontrava desde há cerca de dois meses, para o dia 8 de janeiro de 2022, mas a situação complicou-se e a fuga precipitou-se, dois dias antes, em pleno dia de Reis, rumo a Arouca, onde tinha alguns amigos que lhe valeram prontamente.

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Praticamente quase só com a roupa que trazia vestida e pouco mais; sem a ração para o seu boxer, aquela força anímica que a impediu de deixar de lutar pela vida, a Sofia chega a Arouca quase sem nada, mas com uma enorme força de vontade em começar uma nova vida. E como que por milagre inexplicável, e graças ao poder das redes sociais, o apoio começa a surgir de muitos lados.

Os apoios (nomes fictícios dos intervenientes)

O Tiago, além do transporte, arranjou-lhe um alojamento provisório, que lhe iria engolir os últimos 400 euros que guardara dentro de uma meia.

A Raquel trouxe-lhe um bom cabaz de mercearia e de géneros alimentícios para os primeiros dias.

A Joana arranjou ração especial para o seu companheiro de todas as horas e que a manteve à tona da vida.

A Lúcia arranjou-lhe um telemóvel e, através de uma delicada operação, lá se conseguiu transferir para ele o cartão com todos os contactos e que se encontrava ainda dentro dos destroços do aparelho, também ele vítima da violência insana de um homem desequilibrado e possessivo.

O Pedro entregou-lhe pessoalmente 100€ para as primeiras necessidades e que ela – soube-se depois – guardou dentro de uma Bíblia para se lembrar de rezar por todos os seus amigos, os seus “anjos” como ela gostava de chamar e que apareceram, inesperadamente, de todos os lados, naquele difícil momento da sua vida.

A Margarida pediu para que a Sofia passasse pela sua loja para escolher 4 peças de roupa a seu gosto.

O António mandou descarregar lenha à sua porta para aquecer a casa provisória onde se acolhera.

Luísa arranjou-lhe uma máquina de café e alguns pratos.

Sensibilizado por esta história que começou a circular pelas redes sociais, o Luís, desde o estrangeiro, onde se encontrava, transferiu 200€ para apoio de quem estava a começar do zero uma vida nova em Arouca, donativo esse que lhe fez brotar lágrimas de emoção e de gratidão por tanta generosidade que ia surgindo de muitos lados. Entretanto, outros donativos iam caindo na conta divulgada no grupo Arouquenses.

Por outro lado, marcam-se entrevistas e mandam-se currículos com vistas a arranjar uma ocupação digna para a sua subsistência, muito embora a Sofia diga que está disposta a aceitar qualquer ocupação, pois para ela todo o trabalho é digno.

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A história (ou parte dela)

Quando recebi, como administrador do Grupo Arouquenses, o pedido de um apelo para ser divulgado neste grupo, fiquei logo com a sensação de que tal apelo configurava uma situação de sequestro psicológico, de violência física e de assédio sexual. Por isso, depois de dar luz verde para a sua publicação, enviei o texto por mail para o posto da GNR da localidade de onde tinha partido o pedido de socorro.

Entretanto, um grupo de pessoas foi acompanhando de perto, através das redes sociais o desenrolar desta história e procurando mesmo algumas soluções para ultrapassar a situação em que a Sofia se encontrava.

Depois de divulgado o seu grito de alerta, achou-se prudente, por motivos de segurança, retirar o apelo, o que foi feito pela própria, mas mantendo a história através do relato de uma outra pessoa.

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Inesperadamente, no dia de Reis, recebo em mensagem privada, uma mensagem esquisita composta por um amontoado de frases truncadas, e sem nexo, revelando um estado de espírito de pânico e de total descontrolo. No meio delas conseguia ler-se: “ele partiu meu telemóvel. Estou na rua.” Além disso, conseguia ainda ler-se o nome da rua onde ela se encontrava.

De imediato, reenvio esta mensagem desconexa para algumas pessoas que estavam a seguir, de perto, esta situação da Sofia, enviando-a também para o posto da GNR. Dada a urgência do caso, cheguei mesmo a telefonar, mas informaram-me que a GNR já se encontrava no local.

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 Uma nova vida (a partir do zero)

Desconhecemos pormenores sobre a intervenção da GNR neste caso. De qualquer maneira, desde que chegou a Arouca, a Sofia viu-se objeto de uma onda de apoio para iniciar uma nova vida, tendo neste momento, não só um espaço mais aconchegador e mais acessível, que a Luísa (nome fictício) lhe conseguiu arranjar, posteriormente, como também perspetivas próximas de  uma ocupação digna para garantir a sua subsistência.

Dominando fluentemente o inglês e o italiano; com uma vasta e diversificada experiência internacional nos mais diversos domínios e com uma enorme vontade de lutar, a Sofia certamente que vai conseguir ultrapassar os efeitos negativos das amarras de que se libertou e começar do zero em Arouca, ou em qualquer outro local, uma nova vida digna e feliz.

Sem referência ao género de apoio dado, achamos por bem divulgar os nomes das pessoas que marcaram presença, de alguma maneira, quer presencialmente, quer virtualmente, neste caso:

Marcos Costa Guedes, Patrícia Ferreira, Angelina Andrade, Pedro Vieira, Sofia Dias, Susana Correia, José Cerca, Camarc e Conferência de S.Vicente de Paulo.

A todos estas pessoas e a outras que possam vir a associar-se a esta cadeia solidária, muito OBRIGADO!

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{ 1 comentário… lê abaixo ou adiciona }

1 Angelina Andrade 10 de Janeiro de 2022 às 15:33

Obrigada professor Cerca. Por divulgar, ajudar apoiar. Na verdade temos que olhar para o lado, estar atentos e denunciar. Por aquilo que já sabemos, trata-se de uma senhora com grandes conhecimentos, e, que pode acrescentar muito a uma terra que cada vez se abre mais ao mundo. Precisamos de apoios. Pedimos apenas que cada pessoa deposite 1, euro, 5 euros. Acreditem que um pouco dado por muitos, faz a diferença. Logo que a senhora tenha trabalho, será publicado os agradecimentos, assim como o facto de a senhora( com a ajuda de uma comunidade unida) pode parar com as doações. Pedimos apenas um pouco, o valor de um café! Se cada um o fizer, será uma ajuda. Obrigada a quem colabborar.

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