Quer com a vibrante sonoridade dos tubos do seu órgão ibérico, quer com os acordes de piano, ou com a harmonia das vozes que, por vezes, aí ecoam, o cadeiral do Mosteiro de Arouca, envolvido por um magnífico cenário de arte e de religiosidade, é sempre um espaço propício para, através da arte musical, nos ajudar a elevar o espírito, sobretudo em época de depressão económica.
Desta vez, e pelas mãos de dois jovens pianistas, Daniel Costa e Joana Vasconcelos e Sá, o coro das freiras foi, na tarde do 1º de dezembro, palco para um concerto de piano a 4 mãos.
O duo Costa e Sá, interpretando 16 peças, marcadamente românticas, de três compositores famosos do sec. XIX e XX, tais como Robert Schumann, Edvard Grieg e Gabriel Fauré, proporcionaram à numerosa plateia momentos de beleza artística e de elevação do espírito, através da arte musical.
Fado, património imaterial da Humanidade
Tendo o fado sido reconhecido pela Unesco, como património imaterial da Humanidade, Daniel Costa, no final do programa, quis associar-se a esse reconhecimento da Unesco que teve lugar na Indonésia, na semana passada, cantando um fado acompanhado ao piano por ele próprio.
Embora o fado seja, habitualmente, acompanhado à guitarra, Daniel Costa que também é um grande apreciador e intérprete do fado, arriscou cantá-lo, não de pé, mas sentado ao piano.
Para essa homenagem, o jovem pianista escolheu o fado alexandrino de Joaquim Campos, tendo como letra um poema de Fernando Pessoa “Contemplo o que não vejo”.
Com este raro momento de fado ao piano, com a aliança de versos de Fernando Pessoa a algo que internacionalmente nos identifica e que recentemente foi reconhecido como património imaterial da humanidade, este concerto não poderia ter terminado da melhor maneira.
Depois deste momento extraprograma os pianistas foram agraciados com um ramo de flores e com a oferta da última e mais completa publicação sobre o Mosteiro de Arouca, tendo-lhes sido também entregue uma caixa com pão-de ló de Arouca, um dos nossos melhores embaixadores gastronómicos para quem nos visita.
A Real Irmandade da Rainha Santa Mafalda agradece às professoras Dulcineia Loureiro e Rosa Morais, bem como à Casa A. Teixeira Pinto, de José Pedro Antão Gomes Tomé, todo o apoio prestado para a concretização deste concerto.
São gestos de “mecenato cultural” como estes que vão permitindo a realização em Arouca de espetáculos deste nível artístico que honram Arouca e dignificam o magnífico espaço em que ocorrem.
José Cerca
Publicado no semanário “Discurso Directo” nº185 de 9 de dezembro de 2011
Publicado no “Jornal de Arouca” nº798 de 15 de dezembro de 2011
{ 2 comentários… lê abaixo ouadiciona }
São de facto momentos importantes que honram Arouca, a sua cultura, as suas gentes… parabéns à Organização.
Foi, de facto, um concerto com muita qualidade artística. Parabéns a quem teve a iniciativa de os convidar para este Concerto!
No entanto, tenho umas pequenas referências a fazer, se é que me são permitidas.
Primeiro o facto, que nada tem a ver com a organização, de o público bater palmas entre os diferentes andamentos das mesmas das obras. Pena, pois considero o público de Arouca um excelente público, com muita capacidade crítica e conhecimento musical.
Segundo, e talvez o que me tenha desiludido mais, o excesso de discursos sem conteúdo, sem objectivo e com demasiado barroco (na conotação que esta palavra tinha aquando da comparação com a música seiscentista). Este facto só prejudicou o desenrolar do concerto.
Por fim, apenas o final. Mais um minutinho, menos um minutinho. Mais um ramo para o músico e para a música. Mais um livro, mais um “magnífico” doce regional, mais um beijinho e um discurso, mais tudo e mais alguma coisa. Perdeu-se, entretanto, o fio à meada. As pessoas levantarem-se, umas foram andando, outras foram esperando o desfecho, de pé. Perdeu-se entretanto a bela imagem que ficava do concerto por excesso de cortesias que, pelo que parece, estavam mal ensaiadas.
como nota final, deixo aqui patente, que o objectivo deste comentário não é tirar o mérito a quem o tem, mas sim dar um contributo para que, numa próxima tudo corra melhor. Com menos discursos (mas mais incisivos) com um simples ramo (na altura certa. os doces e os livros entregavam-se no camarim, como cortesia) e, como esperamos certamente, com a mesma qualidade artística.