AROUCA ENCERRA O IV FESTIVAL INTERNACIONAL DE ÓRGÃO

por jcerca em 1 de Dezembro de 2024

Tendo decorrido em 12 municípios da Grande Área Metropolitana do Porto, de 19 de outubro a 1 de de dezembro, coube a Arouca encerrar a 4ª edição do Festival internacional de órgão e música sacra (FIOMS).

Surgido em 2021 com o objetivo de “preservar, promover e valorizar o vasto e rico património organístico da Diocese e Área Metropolitana do Porto” esta 4ª edição realizou 40 concertos em 34 das mais emblemáticas igrejas da diocese do Porto e envolveu mais de 400 artistas nacionais e estrangeiros.

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Para o encerramento deste Festival internacional de órgão, nada melhor do que o belíssimo espaço do cadeiral do Mosteiro de Arouca, em cujo cenário barroco se impõe, desde 1743, o seu órgão ibérico o qual, pelas mãos do organista espanhol Juan Maria Pedrero, exibiu, uma vez mais, as potencialidades da sua rica sonoridade.

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A abrir o Festival Filipe Veríssimo, Diretor Geral deste Festival, agradeceu ao Município de Arouca e a todos os municípios que, acreditando neste projeto, deram ao mesmo o seu valioso contributo e apoio.

Satisfeito pela adesão do público a este Festival, Filipe Veríssimo informou que a próxima edição alargar-se-á também ao Brasil, transformando-se assim num Festival Intercontinental de órgão.

Dos diversos organistas que deram vida a este Festival coube ao organista espanhol Juan Maria Pedrero encerrar esta longa série de concertos que integraram a 4ª edição deste Festival.

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Sendo um especialista em música ibérica para órgão, interpretou diversas peças de 7 autores dos séculos XVI, XVII e XVIII, quase todos eles espanhóis, à exceção do português Pedro de Araújo (1640-1704) que abriu este concerto com a sua peça mais famosa para órgão, a Batalha de 6º tom.

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Sendo numerosos os órgãos de tubos existentes por toda a vasta diocese do Porto este evento muito contribuirá, não só para a sua divulgação, preservação e valorização, como também para aproximar o público daquele que é considerado mui justamente “o rei dos instrumentos”.

José Cerca

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O TEMPO ESCONDIDO NO ANEXO 263

por jcerca em 13 de Outubro de 2024

Peça de teatro baseada no Diário de Anne Frank

Com o auditório da Loja Interativa de Turismo de Arouca completamente cheio, teve lugar, no dia 12 de outubro, a apresentação de uma peça de teatro baseada no Diário de Anne Frank, escrito entre 1942 a 1944 durante a II Guerra Mundial e levado à cena pela Oficina de expressão dramática “Reinventa-te” da Associação Cultural e Recreativa de Mansores, sob a direção artística e encenação de Joana Silva.

A evocação do tema do nazismo e dos seus campos de concentração esteve sempre presente ao longo da representação desta peça de teatro.

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Já com os atores em palco, a peça iniciou-se com uma breve contextualização em voz off, de modo a situar historicamente o ambiente vivido no Anexo 263, durante a II Guerra Mundial.

Trata-se, efetivamente, de um anexo secreto criado na empresa do pai de Anne Frank na Holanda e onde ela se escondeu da perseguição nazi. Foi aí que ela, entre os seus 13 e 15 anos escreveu o seu diário para a ajudar a passar o tempo nesse apertado esconderijo.

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Após esta contextualização, a peça iniciou-se com a mudança visual dos atores, trocando as suas roupas pelas fardas de prisioneiros dos campos de concentração nazis.

Escrito no anexo 263 por uma adolescente, a narração deste Diário e a sua evocação, de uma maneira original e criativa, só poderia ter sido feita por uma grupo de adolescentes que, partilhando a narração de cenas deste Diário, conseguiram manter a unidade da narrativa, conferindo-lhe, ao mesmo tempo, alguma variedade visual e dramática, ao longo da peça que evoca um período tenebroso da História mundial.

Dinâmica colaborativa

Após a indicação do destino final e trágico de alguns dos personagens referidos ao longo deste Diário, tendo-se salvado apenas o pai de Anne Frank, a plateia aplaudiu de pé esta original interpretação e esta criativa evocação do Diário de Anne Frank, ensaiado e dirigido por Joana Silva.

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Subindo ao palco, a ensaiadora agradeceu a presença do numeroso público, bem como o apoio dos pais dos jovens atores, salientando a colaboração de muitos deles na confecção das roupas, na construção dos cenários e na elaboração das gravações sonoras de apoio à execução da peça.

Por sua vez, Margarida Belém, Presidente da Câmara Municipal de Arouca, salientou o entusiasmo deste grupo de adolescentes e da sua ensaiadora e agradeceu também aos pais por terem acreditado neste projeto teatral que envolveu muitos dos seus filhos.

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Viver depois da morte

Tratando-se de uma peça ainda muito atual e que nos faz refletir, remetendo-nos para situações difíceis e bélicas que se vivem no Mundo de hoje, esta evocação do Diário de Anne Frank terminou com um grito proclamado energicamente do palco pelos adolescentes que o interpretaram “Quero continuar a viver depois da minha morte”!…

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Esta contradição verbal justifica-se e entende-se bem, até porque as cenas representadas deste Diário de Anne Frank evocam o drama humano tragicamente vivido “naquele que talvez tenha sido o mais terrível período da Humanidade” e sabendo nós que cada vez mais se corre o risco da Humanidade voltar a viver idêntico período.

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Daí a pertinência deste grito “para que este genocídio nunca seja esquecido. Para que nunca nos esqueçamos do que a raça humana foi capaz de fazer….E para que nunca deixemos que se repita”.

José Cerca

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RETRATOS BARROCOS PARA CRIANÇAS

por jcerca em 17 de Julho de 2024

Tal como na última edição da Recriação histórica, a edição deste ano foi também antecedida, durante vários dias, de um conjunto diversificado de atividades integradas nos “Retratos barrocos”.

A edição deste ano teve, contudo, a preocupação de oferecer algumas atividades direcionadas para o público mais jovem, aproximando-os assim do seu Mosteiro e levando-os à descoberta de muitos dos seus segredos históricos.

 Nos passos de Mafalda

Tratando-se de uma visita encenada aos principais espaços do Mosteiro de Arouca, esta foi a primeira das atividades para crianças e que, em duas sessões, reuniu cerca de 100 visitantes infantis.

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Através da guia que conduziu a visita, cativando, despertando a curiosidade e interagindo com os pequenos visitantes, esta interessante e mui pedagógica atividade, contribuiu para que estas crianças conhecessem um pouco melhor a vida e a história da padroeira de Arouca, ao mesmo tempo que iam percorrendo diversos espaços conventuais, a maior parte deles desconhecida desses mesmos visitantes.

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Um serão no Mosteiro

Esta foi outra das atividades destinadas a crianças dos 8 aos 12 anos e que permitiu que um pequeno grupo infantil pudesse descobrir os espaços onde as monjas rezavam, trabalhavam, comiam e dormiam.

Durante algumas horas estas crianças, devidamente orientadas, puderam admirar a beleza escondida e centenária dos pergaminhos do Mosteiro; descobrir o encanto do órgão e dos seus numerosos tubos e até aventurar-se na subida ao Mirante do Mosteiro. A descoberta de tantos espaços desconhecidos do nosso Mosteiro deixaram fascinados estes pequenos visitantes, ao mesmo tempo que contribuiu para o seu maior conhecimento do nosso melhor ex-libris.

Descerramento do testamento1

Mas este “serão no Mosteiro” permitiu ainda que este grupo de crianças pudesse estar, não só tão perto de uma das maiores relíquias do nosso Mosteiro, o testamento da Rainha Santa Mafalda, como também pudesse participar, com a Presidente da Câmara, no descerramento da sua exposição temporária, em espaços do Mosteiro de Arouca. Foi certamente, um momento único e que ficará bem gravado na memória dessas crianças.

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O testamento de Mafalda.

Trata-se de um documento-relíquia, autentico, datado do sec. XIII e no qual a Rainha D. Mafalda manifesta as suas disposições, quer no que se refere ao seu funeral, quer também no que concerne à distribuição dos seus bens pessoais e às suas inúmeras propriedades que lhe foram deixadas pelo seu pai, o rei D.Sancho I.

Testamento

É um dos mais preciosos documentos do nosso património histórico, bem guardado na Torre do Tombo, para onde foi levado em 1854 pelo escritor Alexandre Herculano, após a extinção das ordens religiosas.

A sua breve exposição temporária no Mosteiro de Arouca deve-se, não só às numerosas diligências do Município, como também ao seu contributo financeiro para o restauro e preservação de tão importante documento, carregado de um enorme e significativo valor histórico, para Arouca e para o País.

Foram inúmeras as pessoas que desfilaram perante esta relíquia documental e histórica cuidadosamente exposta, durante apenas 6 dias, na Biblioteca memorial D.Domingos de Pinho Brandão, instalada no espaço do Mosteiro de Arouca, onde outrora funcionou o Salão de estudo e de Festas do ex-Colégio Salesiano, entre 1960 e 1982.

Refira-se que, após a abertura desta exposição, seguiu-se, no mesmo espaço, a projeção de um pequeno filme, com a duração de 25 minutos e protagonizado por arouquenses, sobre a vida da Rainha santa Mafalda, desde o nascimento até à sua morte.20240712_220816

Fazendo os pregões e os pregoeiros parte do nosso património imaterial e estando até a função do pregoeiro presente nesta recriação histórica, a oficina “Pregões e pregoeiros” foi outra das atividades dirigida às crianças dos 8 aos 15 anos e integrada nos “Retratos do Barroco”.

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Orientada por Fátima Dias do arquivo municipal de Guimarães e apoiada num pequeno folheto explicativo, esta aula, muito interessante e didática, elucidou as crianças sobre a função do pregoeiro e sobre as caraterísticas que ele deveria ter para divulgar as ordens oficiais da governança. Durante a sessão foram feitos alguns exercícios práticos da leitura de diversos pregões e mostradas fotos de alguns pregoeiros.

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A oficina terminou com “o bingo do pregoeiro” que consistiu num interessante jogo para avaliar os conhecimentos que as crianças adquiriram sobre a função do pregoeiro.

Como importante património imaterial que urge preservar, Fátima Dias terminou com o apelo para que se fizesse a recolha dos muitos dos pregões que correm o risco de desaparecerem de vez.

 José Cerca

Publicado no jornal “Discurso Directo” nº606  de 2 de  agosto de 2024

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CEIA BARROCA

por jcerca em 15 de Julho de 2024

Uma mini recriação histórica gastronómica

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 A Ceia barroca tem sido um dos momentos altos que tem antecedido as várias edições da recriação histórica em Arouca e que costumava ser realizada nos claustros superiores do Mosteiro de Arouca.

Realizada pela 1ª vez no pátio norte do Mosteiro de Arouca, a Ceia barroca deste ano foi um momento socialmente muito divertido, culturalmente muito interessante e gastronomicamente muito agradável.

Acolhidos os comensais da nobreza na entrada nobre do Mosteiro, estes eram dirigidos para uma sala para receberem os respetivos adereços que justificavam o seu título nobiliárquico de conde, duque ou marquês.

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Durante este
agradável repasto barroco foi feita a declamação de poemas de alguns autores da época barroca da literatura portuguesa, tais como Nicolau Tolentino (1740-1811) e Correia Garção (1724-1772). E neste ano em que se comemoram os 500 anos do nascimento de Camões não faltou também o seu célebre soneto “Amor é fogo que arde sem se ver” .

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Além da poesia, quer amorosa, quer satírica, a dança barroca contribuiu também para a beleza desta mini recriação gastronómica, tendo sido mesmo ensaiados alguns passos de dança que divertiram todos os comensais da alta nobreza.

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José Cerca

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SACRO E ETERNO

por jcerca em 14 de Julho de 2024

Um concerto de música sacra

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Integrado nos “Retratos do Barroco” teve lugar na tarde do domingo, dia 14 de julho, o concerto “Sacro e Eterno, interpretado pelo grupo “Ensemble São Bernardo” e que decorreu no mais belo espaço barroco do Mosteiro de Arouca, o seu magnífico coro baixo, mais conhecido por cadeiral.

Criado e dirigido pelo maestro Nuno Margarido Lopes, o “Ensemble São Bernardo” é constituído por 8 vozes, 4 masculinas e 4 femininas e os seus cantores são todos eles formados em canto por Escolas superiores de música.

O Programa deste concerto consistiu na interpretação coral polifónica de 13 trechos de música sacra de autores diversos dos sec.XVIII, IX e XX.

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Através de uma maravilhosa harmonia polifónica enquadrada por um belíssimo cenário barroco este concerto proporcionou ao publico que enchia o cadeiral, uma viagem espiritual, através da música sacra, de diversos compositores europeus, desde o período romântico ao contemporâneo.

Com textos em latim, francês, inglês e alemão o fio condutor desta prece polifónica tinha como tema comum os tempos conturbados que o mundo atravessa e para os quais se implorava, musicalmente, uma prece à paz e à concórdia em todos os conflitos existentes no mundo de hoje.

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A beleza polifónica dos trechos interpretados e o cenário barroco em que eles ecoaram não poderia ser mais adequado para este desejo de paz que o mundo tanto anseia.

José Cerca

Publicado no semanário “Voz Portucalense” Ano LV nº28  de 24  de  julho de 2024

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