A poucos dias do início do novo ano escolar a comunidade educativa de Arouca, bem como a restante população, foi surpreendida pelo pedido de demissão da Directora do Agrupamento de Escolas de Arouca, Drª Adília Cruz.
Mesmo ignorando os motivos que a terão levado a tomar tal decisão, em período tão crítico para o funcionamento do iminente ano lectivo, não faltaram logo, nas redes sociais, alguns comentários, uns de regozijo pela “boa notícia” e porque “já vai tarde”, outros de exigência a pedirem uma “investigação ou auditoria”; outros ainda a misturarem casos pessoais com a ingente gestão de todo um enorme agrupamento de escolas, com centenas de professores e milhares de alunos. Outros, embora reconhecendo o “trabalho positivo” à frente do Agrupamento, entendem que a Directora “não fez mais do que a sua obrigação”, pois “ para isso era paga”.
Todos estes comentários são próprios de pessoas cujo horizonte é o próprio umbigo e que parecem desconhecer o gigantesco trabalho que é a gestão de um Agrupamento tão grande e complexo como este, mesmo sabendo-se que a Directora é um dos elementos dessa coesa equipa de gestão.
Da obrigação, à dedicação
Quem conhece um pouco o trabalho de coordenação de uma enorme comunidade educativa e tem acompanhado, mesmo que de fora, os projectos educativos deste Agrupamento, alguns deles merecedores de prémios, a nível nacional e até mesmo internacional, sabe perfeitamente a quantidade enorme de horas que muitos professores dão à escola e que vão mesmo para além dessa mera “obrigação” e que só é possível porque a obrigação se transforma quase sempre em dedicação e em paixão pela causa da educação.
É bem conhecida a enorme capacidade de trabalho, a grande dedicação à Educação e ao Agrupamento de escolas de Arouca que Adília Cruz dirige desde há 10 anos. É também notória a sua capacidade de liderança, bem como o dinamismo pedagógico que sempre imprimiu a todas as diversas vertentes pedagógicas, culturais, artísticas e sociais que envolvem este Agrupamento.
É também conhecida a abertura à comunidade de muitos espaços escolares dispersos pelo Agrupamento, disponibilizando tais recursos materiais à própria comunidade envolvente, mesmo sabendo-se que a Directora do Agrupamento poderia até invocar muitos motivos para o não fazer.
Mas o que será talvez menos conhecido e que ultrapassa, de longe, essa tal “obrigação” ou esse referido “pagamento” é o humanismo e o empenho que colocou em vários casos problemáticos e muito sensíveis de alunos que lhe passaram pelas mãos, enquanto Directora do Agrupamento. Casos de violência ou de assédio sexual dentro da própria família e que, pela gravidade de que se revestiam, a Directora tudo fez para que tomassem o rumo mais adequado, trabalhando em sintonia com o Ministério Público e com a própria CPCJ.
Não tendo qualquer “obrigação” de os acolher, mesmo que temporariamente, em sua casa, fê-lo por várias vezes, enquanto se procuravam alternativas, quer de instituições, quer de famílias de acolhimento para tais casos, esquecendo até o transtorno familiar e ignorando os encargos económicos que tais medidas implicavam. E se hoje alguns desses casos parecem estar bem encaminhados, muito se deve à sua persistência, à sua luta e à sua determinação em se colocar ao lado dos alunos envolvidos.
Poder-se-ia dizer que não tinha nenhuma “obrigação” em assumir tais responsabilidades e tão grandes encargos com estes alunos(as), mas fê-lo por própria opção e fê-lo, sobretudo, por ter consciência da delicadeza e da gravidade das situações dos mesmos, não descansando enquanto não se encontrou a solução mais adequado para tais casos.
Perante estes e outros casos que lhe passaram pelas mãos, enquanto Directora do Agrupamento, nenhuma avaliação caberá nos frios parâmetros com que qualquer professor é sujeito na sua carreira. A melhor avaliação caberá, sim, na palavra OBRIGADO e no estatuto de MÃE que um desses casos problemáticos e delicados lhe atribuiu. Em nome desse e de muitos outros casos, OBRIGADO, Adília Cruz.
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Boa Tarde
Uma pessoa é livre de escolher a sua vida…