Faz um ano que, desde o dia 24 de fevereiro de 2022, diariamente e insistentemente, nos entram pela casa adentro cenas horríveis de destruição e de morte, de tal modo violentas, constituindo, muitas delas, autênticos crimes de guerra. Horrores inimagináveis de acontecer em pleno sec.XXI, quando há pouco mais de 70 anos a Europa e o mundo estiveram envolvidos em semelhantes barbaridades de morte e de destruição.
Infelizmente, as cenas de outrora ganham agora um maior impacto, um mais acentuado dramatismo e uma mais profunda e dolorosa angústia, por chegarem até nós, quase em direto, graças à evolução das tecnologias da comunicação.
Infelizmente, a par desta evolução tecnológica, indiscutivelmente benéfica para todo o mundo, também as tecnologias mortíferas e de destruição evoluíram imenso, permitindo mostrar a todo o mundo os horrores para onde tal desenvolvimento tecnológico pode conduzir a humanidade.
São impressionantes as cenas de sofrimento humano e os atos de violação dos mais elementares direitos humanos, de quem, de um momento para o outro, perdeu tudo, desde os bens materiais, à vida de familiares ou vizinhos.
Morte e destruição
São devastadoras as cenas de destruição de complexos habitacionais, de equipamentos sociais, de estruturas produtivas e de meios de produção energética.
E tudo isto devido à loucura da ambição imperialista de um ditador paranoico e megalómano, que, insensível aos mais elementares direitos humanos, comete os maiores horrores e os mais graves atentados à dignidade humana, recorrendo mesmo à ameaça nuclear.
Mas o que mais revolta e incrédulos nos deixa é ver a aliança entra a política e a religião, neste caso a religião ortodoxa russa, personificada no seu líder, o patriarca Cirilo I que tem apoiado toda esta absurda guerra, não tendo mesmo pejo em prometer benesses celestiais àqueles que nela participarem.
Resistência e solidariedade
Mas este ano de horrores permitiu, por outro lado, que o mundo ficasse a conhecer, não só, a extraordinária resistência do heroico povo ucraniano, personificada no seu incansável Presidente Volodomir Zelensky, como também permitiu que o mundo descobrisse a riqueza da sua cultura e as belezas de um país cobardemente invadido pela sua vizinha Rússia.
Por outro lado, a invasão da Ucrânia permitiu que uma gigantesca onde de solidariedade surgisse por todo o mundo em apoio ao martirizado povo invadido que, de um momento para o outro, viu alterada toda a normalidade das suas vidas, perante a chuva de misseis russos com que começaram a ser atingidos.
Um ano decorrido e mesmo perante o apoio que a América e a Comunidade Europeia têm demonstrado para com a martirizada Ucrânia e apesar dos sucessivos pacotes de sanções económicas contra o invasor, é ainda difícil saber quanto tempo mais estes horrores durarão, mas tudo indica que eles continuarão por largo período de tempo, pois, e apesar dos diversos apelos de personalidades de peso internacional, como o Papa Francisco e outros, o caminho para a diplomacia e para o diálogo parece estar ainda muito longe de ser trilhado, dada a teimosia do invasor em não querer retirar das zonas invadidas e gravemente destruídas pela força das suas armas mortíferas.
Com a guerra somos todos derrotados
“Com a guerra, todos somos derrotados! Mesmo os que não tomaram parte nela e que, na indiferença covarde, assistiram a este horror sem intervir para levar a paz”, escreveu o Papa Francisco na sua Encíclica sobre a Paz na Ucrânia.
Também um seu antecessor, o Papa Pio XII, a24 de agosto de 1939, pouco antes de ter deflagrado a II Guerra Mundial afirmou numa mensagem radiofónica que “É com a força da razão, não com a das armas, que a Justiça progride…. E concluiu sabiamente que “Nada se perde com a paz. Tudo pode ser perdido com a guerra».
Todos sabemos que a guerra começou há um ano, mas ninguém sabe como e quando acabará.
Que a tão desejada Paz venha rapidamente pôr fim a tantos horrores que desfilaram perante nós durante este ano e que vitimaram tantas vidas inocentes e destruíram tantas cidades.
Sim, com a guerra somos todos derrotados!….
José Cerca
Publicado no jornal “Discurso Directo” nº582 de 03 de março de 2023