CICLO IBÉRICO DE ÓRGÃO RAINHA SANTA MAFALDA

por jcerca em 10 de Setembro de 2023

Ciclo ibérico de orgão

Promovido pela Real Irmandade Rainha Santa Mafalda, com a supervisão técnica do organista titular do órgão do Mosteiro de Arouca, Paulo Bernardino, teve lugar, no cadeiral do Mosteiro de Arouca o I Ciclo ibérico de Órgão Rainha Santa Mafalda que decorreu nas tardes dos dois últimos domingos de Agosto e dos dois primeiros domingos de setembro.

O programa deste ciclo constou da interpretação de peças de autores do sec.XVI-XVIII para órgão ibérico e a sua execução trouxe a Arouca prestigiados organistas especializados neste tipo de órgão.

 Os organistas

 Paulo Bernardino_1ºconcerto

Além de Paulo Bernardino que é também organista titular da Sé Catedral de Coimbra, bem como organista titular da Capela da Universidade de Coimbra, deram vida a este ciclo de órgão ibérico a organista espanhola Marisol Mendive que é também a presidente da Associação de amigos do órgão da Galiza e cujo reportório foi todo ele preenchido por autores espanhóis dos sec. XVII e XVIII.

Marisol Mendive_2º concerto

Os dois concertos de setembro estiveram a cargo dos organistas Rui Fernandes Soares e João Santos.

Natural de Fiães, Santa Maria da Feira, Rui Soares, além de organista é também cravista e desempenha a função de organista na igreja da Senhora da Conceição no Porto, tendo sido nomeado, desde 2014, organista titular da igreja dos Clérigos, onde é o responsável pelos concertos diários de órgão que aí se realizam.

Rui Soares_3º concerto

Por sua vez, João Santos tem-se destacado nas áreas de Órgão e de Composição, tanto a nível nacional como internacional, tendo participado em prestigiados concursos internacionais de órgão. Foi organista titular do Santuário de Fátima de 2010 a 2018 e é, atualmente, o organista titular da catedral de Leiria, desde 2007.

João Santos_4º concerto

Do coro alto para o coro baixo

Apesar dos organistas atuarem no coro alto, onde está o acesso ao teclado, o público presente pode acompanhar, mais de perto, através da projeção em plasma, ao nível do coro baixo, toda a sua atuação, quer no teclado, quer na mudança dos diversos registos.

Construído pelo organeiro Manuel Bento Gomes Ferreira, natural de Valladolid, entre 1739-1741, este órgão tem 1352 vozes, alimentadas por 24 registos. Trata-se de um órgão ibérico muito apreciado pelos especialistas, que o consideram um dos mais importantes exemplares da organaria deste tipo no mundo.

4ºconcerto_cadeiral

Este ciclo de concertos, que trouxe a Arouca conceituados organistas especializados neste tipo de órgão, permitiu ao público presente apreciar, não só as enormes potencialidades sonoras deste órgão ibérico, como admirar toda a beleza da arte barroca que o rodeia, quer em talha dourada, quer em pintura e estatuária.

De acordo com números recolhidos, junto dos serviços de entrada no Mosteiro, terão passado por este ciclo de 4 concertos mais de 400 pessoas.

Batalhas sonoras

De referir que todos os 4 concertos terminaram com a interpretação de “Batalhas” de autores diversos, sendo Pedro de Araújo (1640-1705) o compositor português e organista da Sé catedral de Braga (1662-1665) quem mais se destacou neste tipo de composição para órgão ibérico.

João Santos_Paulo Bernardino

Trata-se de um género musical surgido em Portugal e Espanha e que se tornou popular nos sécs. XVII e XVIII, procurando tirar partido das características próprias do órgão ibérico, cujos tubos horizontais, providos de palhetas, permitem emitir um som estridente e vibrante, como o de trombetas incitando os supostos guerreiros a combater numa imaginária batalha, que, ao fim e ao cabo, personifica a batalha sonora entre o Bem e o Mal.

Memória e reconhecimento ao Dr. Luís Aguiar Soares

Este primeiro ciclo de concertos de órgão de Arouca foi financiado pelos filhos do Dr. Luís Aguiar Soares, pelo que tal evento cultural e musical constituiu também uma homenagem de memória e de reconhecimento a este médico arouquense.

4º concerto_aplausos

Nascido em Arouca (Rossas), em 1940 e falecido em 2010 (30 de abril) Luís Aguiar Soares, tirou o curso de Medicina do Porto, onde foi um aluno “brilhante”. Concluída a licenciatura, foi para Angola, onde assumiu as funções de Assistente Universitário na Universidade de Luanda, tendo aí concluído a especialidade em patologia clínica.

Benemérito de diversas instituições, algumas delas arouquenses, é também ao Dr. Luís Aguiar Soares que se deve a instalação, em espaços do Mosteiro de Arouca, da Biblioteca Memorial D. Domingos de Pinho Brandão em 2015.

José Cerca

Publicado no jornal “Voz Portucalense” nº31 de 13 de  setembro de 2023

Publicado no jornal “Discurso Directo” nº595 de 22 de  setembro de 2023

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