PERCURSO PEDONAL EM ROSSAS

por jcerca em 8 de Setembro de 2009

Um calcorrear pelo passado histórico
da antiga Comenda da Ordem de Malta

 cruz de malta1 Organizado pelo Grupo Cultural e Recreativo de Rossas (GCRR) teve lugar na manhã do Domingo, dia 6 de Setembro, uma caminhada pela Freguesia de Rossas, percorrendo alguns dos principais sítios com raízes históricas nesta antiga Comenda da Ordem de Malta. Paralelamente decorreu uma prova de BTT por trilhos rurais dentro da mesma Freguesia.

Orientada pelo dr. António Jorge Brandão de Pinho, esta caminhada foi um autêntico calcorrear pelo passado histórico desta Freguesia e que foi agradável e culturalmente enriquecido por um vasto conjunto de interessantes dados históricos por ele recolhidos, através de um trabalho de investigação histórica que, oportunamente será publicado em livro.

os caminhantes

Lazer, ar livre e cultura

Nessa manhã, a actividade física concretizada na caminhada ao longo de parte do percurso do rio Urtigosa, passando por meio de milheirais, subindo encostas, observando paisagens, parando em moinhos, lagares de azeite, fontanários ou casas senhoriais de antigamente, foi acompanhada e enriquecida com interessantes dados históricos referentes aos locais por onde os caminhantes iam passando.

Foi assim que os cerca de 4 dezenas de caminhantes puderam conhecer alguma da história da Casa de Terçoso e a curiosa lenda, a ela ligada, sobre o escravo Virgolino, trazido de Moçambique e que terá morrido dentro de um tonel de vinho dando assim origem ao dito popular “Quem me comeu a carne, também me há-de chupar os ossos”.

o cicerone

Um momento verdadeiramente cultural e que terá, certamente, surpreendido muitos dos caminhantes, foi a entrada no pequeno Museu de Arte Sacra, situado no rés do chão da Residência Paroquial e que é fruto da recolha iniciada e motivada pela preocupação pela preservação do património local de um dos últimos párocos de Rossas, o Pe. José da Rocha Ramos.

Por entre uma rica colecção de paramentos e de outras diversas alfaias religiosas, Brandão de Pinho chamou a atenção para a presença de um crânio aí exposto, aproveitando para fornecer interessantes dados biográficos sobre o último capitão da Ordem de Malta em Rossas, Feliciano António Ferreira de Vasconcelos, enterrado no adro da igreja paroquial, em 1873, de onde terá sido recuperado o referido crânio, já em finais do século passado.

Casa do Campo de Fora: recepção musical e reforço gastronómico

recepção musical na Casa do Campo de fora

Ao longo do percurso foram referidas diversas casas senhoriais da então Comenda de Rossas e que detiveram, outrora, grande poder económico. E se algumas apresentam boas condições de habitabilidade, devido a um cuidadoso restauro, de outras só restam vestígios ou algumas ruínas, como é o caso da Casa de Terçoso, dos Vasconcelos e Cirne; da Casa da Felgueira, dos Brandão de Vasconcelos, das Casas da Cavada, dos Aranha Brandão e  Ferreira Brandão; ou das Casas do Cimo de Vila, dos Pinho Brandão.

Foi diante das ruínas destas últimas casas, onde nasceu o Pe. Joaquim de Pinho Brandão, que chegou a ser pároco de Chave, que Brandão de Pinho aproveitou para ler um retrato, numa linguagem tipicamente castiça, feito por Aquilino Ribeiro, nas suas Memórias, àquele que fora seu colega de seminário.

Estando umas em ruínas, outras em preocupante estado de abandono, como a Casa da Felgueira, outras habitadas, como a Casa do Corregato, foi na Casa do Campo de Fora que os caminhantes foram agradavelmente recebidos por um fado, interpretado pelo Presidente do GCRR, Mário Teixeira Soares, acompanhado à viola por Rui Miguel Brandão.

Depois de Brandão de Pinho ter referido um breve historial desta casa que teve a particularidade de nela se ter mantido escondido, por algum tempo, o último bispo de Pinhel, D. Leonardo de Sousa Brandão, todos os presentes foram presenteados com um merecido reforço gastronómico oferecido pela organização.

Capela da Senhora do Campo

Um percurso através da freguesia de Rossas nunca ficaria completo se nele não estivesse incluída a capela da Senhora do Campo, considerada a 2ª padroeira de Rossas.

Senhora do CampoDatada de 1792 e atribuída a José Manuel Aires do Trigal, que, segundo se gravou na verga da porta principal terá sido mandada construir por sua devoção e à sua custa, foi diante desta belíssima capela que Brandão de Pinho evocou a história da sua construção e esclareceu que esta reedificação da pequena ermida não está directamente relacionada com o alegado milagre de Nossa Senhora pondo fim às intempéries que alimentavam uma praga de juncos e arrasavam as culturas donde os rossenses retiravam a sua subsistência. Entre outros dados, Brandão de Pinho reportou-se às Memórias Paroquiais de 1758, onde já se refere a existência da «Capela de Nossa Senhora do Campo, Santa Ana, Santo António e Espírito Santo», que esclareceu tratar-se da primitiva ermida, que se localizava um pouco mais abaixo da actual.

Entre muitos outros aspectos, Brandão de Pinho deu a conhecer o facto de terem sido enterradas, pelo menos, 25 pessoas no interior desta Capela, nos anos mais conturbados que se seguiram à proibição dos enterramentos no interior da igrejas e respectivos adros, concluindo assim a abordagem que vinha fazendo a esta temática desde a passagem pela igreja paroquial.

Casa do Outeiro

Ligada a dois nomes bem conhecidos dos arouquenses, D. Domingos de Pinho Brandão, bispo do Porto e o Dr. Egas Moniz, prémio Nobel da Medicina, foi na Casa do Outeiro que este cultural percurso pelas raízes históricas da antiga Comenda de Rossas terminou.

Grupo na casa do outeiro1

Diante da casa que apresenta ainda o aspecto original e à sombra de uma frondosa ramada de videiras americanas, Brandão de Pinho, evocou o passado deste edifício estabelecendo as ligações com as referidas personalidades.

Efectivamente, tendo pertencido a um tio de Egas Moniz, natural de Estarreja, esta casa foi vendida em 1907 ao pai de D. Domingos de Pinho Brandão que aí nasceu em 1920, tendo aí também falecido em 1988.

Acompanhado agora de uma das irmãs do bispo de Rossas, D. Luciana de Pinho Brandão acabaria por desvendar mais uma interessante história passada com Bernardo, o criado da Casa do Outeiro, no tempo em que o senhor Augusto de Abreu Freire, tio de Egas Moniz, era proprietário desta casa, e que terminaria com um final feliz.

Um Final feliz para iniciativas bem sucedidas

Foi no Parque de Lazer de Sinja, à beira do rio Urtigosa, que a manhã terminou com um lanche almoçarado, não só para os caminhantes, mas também para cerca de centena e meia de ciclistas que participaram numa prova de BTT organizada, simultaneamente, pelo GCRR, com a colaboração do Clube BTT Arouca.

os ciclistasCom participantes vindos desde Coimbra até Braga, esta iniciativa levou os ciclistas a percorrerem cerca de 30 km, dentro da freguesia, quer através de percursos ribeirinhos, quer por antigos regadios, ou ainda pelo monte e por troços da antiga estrada que ligava ao Porto.

Numa impecável organização, ambas as iniciativas despertaram nos participantes as melhores impressões, não só pela recepção, como pelos locais percorridos, quer de bicicleta, quer a pé e ainda pelo conjunto de informações históricas que sobre cada um deles lhes foram sendo fornecidas.

Se a estas iniciativas se acrescentar a representação de teatro que teve lugar dois dias antes em Arouca, organizada pela mesma Associação, bem se pode dizer que este é um exemplo bem positivo de como o Associativismo cultural em Arouca sabe diversificar as suas actividades, abrangendo públicos diferentes, cujos interesses culturais vão desde o teatro à história, passando pelo desporto, até à música e ao pedestrianismo.

Depois de tão interessantes e curiosos dados sobre o passado de Rossas, só nos resta aguardar que Brandão de Pinho dê à estampa o fruto do seu longo trabalho de pesquisa que será, certamente, um precioso subsídio para desvendar a história desta antiga Comenda da Ordem de Malta.

José Cerca

Publicado no Semanário “Discurso Directo” nº72  de 18 de Setembro de 2009

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1 Clarinda Cesar 1 de Setembro de 2010 às 10:14

Ola sou a Clarinda, trabalhei com a Julia Pereira e a Elizabete Oliveira, fomos militares e elas são ai de rossas e gostava de as encontrar e comunicar com elas, se as conhecessem gostava que lhe dessem o meu mail. obrigado.

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