Integrado no Ano Europeu do Património Cultural (AEPC) a Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) promoveu o Programa “Dias do Património a Norte”, que engloba 8 concelhos do Norte do País, desde Arouca, Tarouca, Miranda do Douro, Vila Real, Barcelos, Bragança, Mogadouro e Alfândega da Fé.
Coube a Arouca dar o pontapé de saída deste vasto conjunto de eventos que decorrerão até Setembro, tendo a valorização do Património das referidas localidades como motivação central.
Na verdade e segundo o diretor Regional de Cultura do Norte, António Ponte, “pelo seu carácter e valor muito particulares e capital simbólico, os espaços patrimoniais disseminados pela Região Norte reúnem todas as condições para se assumirem como âncora de uma renovada oferta de experiências culturais e criativas únicas, dinamizando a economia, envolvendo as comunidades e valorizando de forma sustentável a sua paisagem natural e cultural”.
Promovida pela Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), em parceria com os municípios locais, com um investimento total de cerca de 400 mil Euros, cofinanciado pelo Programa Norte 2020, através do FEDER, esta primeira sessão, realizada em Arouca, com um programa bem diversificado, totalmente centrado no Mosteiro de Arouca, revelou-se um verdadeiro sucesso.
O público escolar
O Mosteiro de Arouca foi o 1º palco deste vasto programa dos “Dias do Património a Norte”. Com um programa diversificado e cuidadosamente bem estruturado, este 1º evento não esqueceu o público escolar. Assim, a primeira actividade foi destinada a este público, através da elaboração de um jogo concebido e aplicado pela “Onda Amarela” e que levou as crianças a percorrerem os principais espaços do Mosteiro de Arouca, de uma maneira dinâmica e bem motivadora, sendo-lhe, ao mesmo tempo, fornecidas informações interessantes sobre a história e a vida no Mosteiro de Arouca.
Para a grande maioria dos intervenientes neste jogo didático, percorrer os diversos espaços deste Mosteiro, desde os Claustros, à cozinha, à sala do capítulo, ao coro das freiras até à subida ao órgão ibérico, datada de 1743 foi, seguramente, uma verdadeira e entusiasmante aventura.
Pelo seu valor pedagógico pensamos que este jogo, acompanhado de um adequado guião para os professores, deveria fazer parte dos recursos educativos deste Mosteiro, de modo a poder ser replicado, ao longo do ano, com outras turmas. Este belo Mosteiro precisa e merece ser conhecido pelas novas gerações que aí encontrarão páginas da nossa história, bem como raros tesouros do nosso património.
Visita guiada ao Mosteiro
Esta iniciativa permitiu que as portas do Mosteiro de Arouca estivessem abertas, durante todo o dia 21 de abril, ao público que desejasse conhecer um pouco da sua história e percorrer os principais espaços deste Mosteiro, bem como da sua cerca envolvente. E foi isso que aconteceu ao longo desta visita. Guiados por um historiador local, (Afonso Veiga) e por um conhecedor das vivências dentro deste mosteiro (José Cerca), sobretudo durante a vigência do ex-Colégio Salesiano que aí funcionou desde 1960 a 1982, os visitantes puderam, não só ir conhecer alguns dados sobre a história deste Mosteiro, como também evocar algumas vivências nos espaços outrora ocupados pelo Colégio Salesiano.
Conversar sobre Património
Este evento dos “Dias do Património a Norte” permitiu, ainda, um momento de reflexão sobre “Património e redes de saber” através de uma conversa nos claustros do Mosteiro de Arouca e em que estiveram presentes o Diretor da DRCN, António Ponte e a Presidente da Câmara Municipal de Arouca, Margarida Belém. Estando também prevista a presença do Ministro da Cultura, esta não foi possível devido ao falecimento de um seu familiar.
António Ponte referiu os diversos eventos previstos neste Projeto promovido pela DRCN e salientou a sua importância para a preservação e divulgação do rico património nas diversas localidades abrangidas. Informou ainda que as obras previstas para a instalação de uma estrutura de acolhimento no Mosteiro de Arouca se iniciarão ainda no decorrer deste ano europeu do Património Cultural.
Por sua vez, Margarida Belém, destacou a qualidade do programa organizado pela DRCN, em colaboração com as Câmaras locais, para comemorar o Ano Europeu do Património Cultural e cujo início teve lugar em Arouca. Referiu ainda que o projecto para a requalificação da ala sul do Mosteiro, de modo aí vir a ser instalada uma unidade hoteleira, está em andamento, sendo a Câmara de Arouca, uma das entidades intervenientes nesse logo e delicado processo.
A conversa propriamente dita sobre património e redes de saber foi conduzida pelo Dr. Carlos Martins que foi acompanhado, nesta reflexão, pelos professores universitários João Bonifácio Serra e José Manuel Varejão.
Desta conversa destacou-se a ideia de que é importante que as pessoas sintam o património como seu. Daí a necessidade de se promover uma articulação com as escolas, com as pessoas, com as redes de saber e com as entidades locais, pois qualquer património sem pessoas é morto.
Património e gastronomia
Os mosteiros têm sempre uma forte ligação com a gastronomia, especialmente com a sua rica doçaria conventual. O Mosteiro de Arouca, como muitos outros, não foge a esta regra. Daí que na programação preparada para este 1º evento dos “Dias do Património a Norte” este item gastronómico estivesse também presente.
O espaço escolhido não poderia ter sido outro senão a grandiosa cozinha conventual. Enquanto sob a sua imponente chaminé uma peça de vitela arouquesa ia assando, sob a sua enorme mesa, toda em pedra de uma só bloco, tudo estava preparado para servir a vitela assada como em outros tempos era servida para a comunidade feminina que habitava este Mosteiro cisterciense.
Para conduzir este delicioso momento gastronómico ninguém melhor do que o premiado e bem conhecido chef Marco Gomes que, antes da degustação da vitela arouquesa ao público presente, manifestou o seu enorme prazer por poder estar num espaço magnífico como o é esta cozinha do Mosteiro de Arouca.
Património e música
Vários e diversificados foram os momentos musicais contemplados na programação para este evento. O primeiro foi preenchido pelo grupo “Mão Verde”, mais dirigido a um público infantil mas que acabou por contagiar todo o público que enchia a sala do Capítulo.
À noite, e desta vez no magnífico cadeiral, ou coro das freiras, foi a vez do grupo “Rua da Lua” através da voz de Tatiana Pinto e do instrumental que a acompanhou, deliciar o público presente pela qualidade vocal e instrumental deste espectáculo em que a tonalidade do fado predominou e encantou.
O musical do património
Se quiséssemos destacar um momento alto na variada programação deste 1º evento dos “Dias do Património” diríamos que ele foi atingido com a atuação conjunta de elementos de diversos grupos da comunidade arouquense, tais como o Grupo Etnográfico de Danças e Cantares de Fermedo e Mato, o grupo do Centro Cultural, Recreativo e Desportivo de Santa Maria do Monte, o Conjunto Etnográfico de Moldes de danças e corais arouquenses, o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arouca, e Associação de Melhoramentos de Souto Redondo.
Após a entrada individual de cada um destes grupos,cantando, procedeu-se à atuação conjunto de todos eles, sob a direcção dos artistas António Serginho e Sara Yasmine. Com um trabalho desenhado em grupo, tendo como base a polifonia e as tradições locais, sendo posteriormente trabalhado musicalmente por Serginho, resultou, após 8 ensaios, um excelente musical original, pleno de alegria e cheio de ritmo e de graça que empolgou toda o vasto público que enchia o cadeiral do Mosteiro de Arouca.
Inicialmente prevista a apresentação deste musical na escadaria monumental da ala sul do Mosteiro, por motivos meteorológicos ela acabaria por ser deslocada para o interior do Mosteiro. Mas a sua interpretação foi de tal modo empolgante que a Presidente da Câmara já garantiu que o musical será repetido na Praça, em data a anunciar oportunamente.
E deste modo, com o envolvimento de elementos da comunidade arouquense e a orientação de artistas especializados, se constrói também património, mesmo que seja imaterial, como este “musical do património” que ficará certamente a assinalar bem estes “Dias do Património” que tiveram início no Mosteiro de Arouca e se prolongarão até finais de Setembro por mais outros 7 “palcos de cultura viva” escolhidos pela DRCN para assinalar 2018 como Ano Europeu do Património Cultural.
José Cerca
Publicado no jornal “Discurso Directo” nº466 de 4 de maio de 2018
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